Em 2025, área ardida em Portugal já é três vezes maior que no mesmo período de 2024
A época de incêndios em Portugal está a revelar-se especialmente preocupante em 2025. Os dados oficiais do Sistema de Gestão de Informação de Incêndios Rurais (SGIFR) e do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) indicam que a área ardida até meados de julho já é três vezes superior à registada no mesmo período de 2024, sinalizando um agravamento da crise florestal no país.
Estatísticas em Alta
De 1 de janeiro a 11 de julho de 2025, registaram-se 3.202 incêndios rurais, responsáveis por 9.974 hectares ardidos.
No mesmo período em 2024, os números eram significativamente mais baixos: 1.902 incêndios e 3.246 hectares queimados.
Apenas alguns dias depois, a 15 de julho, os dados do ICNF apontavam já para 3.370 incêndios e 10.768 hectares destruídos pelo fogo, contra apenas 3.462 hectares no ano anterior.
O balanço mostra que, apesar do número de ignições ter aumentado em cerca de 68%, o mais preocupante é a velocidade com que a área ardida cresce, revelando condições mais propícias à propagação do fogo.
O Contexto de 2024
O ano passado já tinha sido marcado por uma situação crítica: apesar de menos incêndios registados em relação a 2023 (6.255 contra 7.535), a área ardida ultrapassou os 137.000 hectares, quatro vezes mais do que no ano anterior. Foi o pior ano desde 2017 em termos de território destruído pelas chamas.
Em 2024, o fogo provocou 16 mortes e prejuízos estimados em 67 milhões de euros para a economia florestal, além da emissão de 0,69 megatoneladas de CO₂.
Causas e Fatores de Risco
Vários fatores ajudam a explicar este agravamento:
Condições meteorológicas extremas: verões cada vez mais longos, secos e quentes, aliados a ventos fortes, favorecem a rápida propagação das chamas.
Abandono rural e desordenamento florestal: vastas áreas do interior continuam sem gestão ativa, com acumulação de matos e monocultura de eucalipto.
Incendiarismo: em 2024, cerca de 84% da área ardida teve origem em fogo posto ou causas suspeitas, revelando um problema estrutural de criminalidade florestal.
Impactos Sociais e Ambientais
Além da perda de vidas humanas e dos danos económicos, os incêndios rurais deixam cicatrizes profundas na paisagem e nas comunidades:
Degradação ambiental: destruição de habitats, erosão dos solos e perda de biodiversidade.
Impactos sociais: populações deslocadas, casas destruídas e trauma psicológico em regiões frequentemente afetadas.
Efeitos a longo prazo: aumento das emissões de gases com efeito de estufa e redução da resiliência dos ecossistemas.
O que está a ser feito
Desde a tragédia de 2017, Portugal implementou diversas medidas de prevenção e combate. Contudo, especialistas alertam que os resultados são insuficientes:
Limpeza de terrenos: muitas vezes incumprida devido ao despovoamento e à falta de meios das populações locais.
Gestão florestal: ainda fortemente marcada pela dependência do eucalipto e pela ausência de mosaicos de proteção.
Meios de combate: apesar de reforçados, enfrentam limitações perante incêndios de grande dimensão.
Organizações ambientais e técnicos defendem uma mudança estrutural: investimento na gestão ativa do território, diversificação florestal e apoio às populações do interior, que são a primeira linha de defesa contra os fogos.
Conclusão
Os dados de 2025 revelam um cenário alarmante: em apenas metade do ano, a área ardida já triplicou face a 2024 no mesmo período. Se a tendência se mantiver, o país poderá enfrentar uma das piores épocas de incêndios das últimas décadas.
Mais do que reforçar o combate, é urgente apostar na prevenção estruturada, ordenamento do território e responsabilização criminal, sob pena de Portugal continuar preso ao ciclo de destruição que ano após ano devasta florestas, aldeias e vidas.
